segunda-feira, 18 de junho de 2012

Soulfly - Soulfly

Nem parece, mas já se vão 14 anos desde o surgimento do SOULFLY, banda que, se não agradou a todos, com certeza tem construído um legado importante dentro da música pesada. Com oito discos lançados e tours pelo mundo todo, a banda de Max Cavalera já foi tema até de estudos acadêmicos relacionados à cultura brasileira, merecendo ao menos uma conferida por qualquer um que goste de metal.

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Em 1996, o SEPULTURA tinha chegado ao auge. Depois de um começo tímido, flertando com o death metal e, mais tarde, já com Andreas Kisser na guitarra, lançando quatro álbuns que marcaram definitivamente seu nome na história, a banda soltava no mercado aquele que seria seu disco mais famoso, o tribalístico “ROOTS”. Naquela época, eles estavam, juntamente com o PANTERA, no topo da cadeia alimentar da música pesada mundial. Apesar disso, devido a problemas internos, e envolvendo a empresária e esposa de Max, Glória Cavalera, o vocalista acabou deixando a banda. O SEPULTURA, com o novo vocalista, Derrik Green, seguiu por outro caminho, distanciando-se dos experimentalismos, já Max Cavalera tentou aprofundar as idéias vencedoras mostradas em “ROOTS”.
O auto intitulado primeiro disco do SOULFLY, nova banda de Max, começa dizendo a que veio já na capa. De braços abertos, como o Cristo, livre (alma que voa?) para abraçar o que vier pela frente, Max parece dizer que está aberto, transparente, mas também só. Não no sentido próprio da palavra, pois a participação de convidados permeia toda a obra do SOULFLY, mas sim como aquele que possui uma visão, uma idéia que precisa ser exteriorizada. O Brasil, levado ao mundo por “ROOTS” através da participação dos índios Xavantes e da referência percussiva de Carlinhos Brown, aqui é apresentado com horizontes mais amplos, apontando para questões como a escravidão, a situação nordestina e a cultura brasileira de um modo geral. Mas, apesar de levar as características de um país para o resto do mundo, o mais interessante desse disco é o fato de apontar para interior de seu criador. Toda a raiva e a dor de Max Cavalera são expostas nas canções de “Soulfly”, o disco.
Já na abertura, as idéias de libertação e de recomeço ficam evidentes. “Eye for an eye” é explícita, na cara. A letra fala sobre começar de novo depois da perda, mas continuar sendo o mesmo, com suas convicções intactas. A idéia de apoiar-se e ter orgulho daquilo que o fez chegar até onde está também fica clara em versos como “All that i am doing can never be ruined, my song remains insane” (“Tudo o que estou fazendo nunca poderá ser destruído, minha música continua insana”). É a ponte perfeita entre passado e futuro. Max vocifera as palavras em cima de muito peso, com destaque para a bateria de Roy Mayorga, que, aliás, é matadora em todo o disco. “No hope no Fear” segue a linha, explorando ainda mais o conceito de liberdade, mas com a sabedoria de que o medo faz parte da ação, pois não senti-lo é o mesmo que estar inerte. “Às vezes sentimos como se a estrada estivesse bloqueada. Eu vou encontrar uma forma, vou mover essas rochas”, diz a canção. Se não há esperança para mudar, certamente não haverá o medo, e assim permanecemos no mesmo lugar, sem evolução.
Se o momento era de transição, tão forte quanto a expectativa do novo era o sofrimento da perda. Com a saída de seu antigo grupo, houve a ruptura com o irmão, e então baterista, Iggor Cavalera, com quem ficaria sem falar por uma década. Pouco tempo antes, o enteado, Dana Wells, fora barbaramente assassinado em uma briga de gangues nos Estados Unidos. “Bleed” surge como um grito desesperado de revolta e clamor por justiça. Mas não a justiça dos homens. “Por quanto tempo você pode se esconder”, urra o vocalista, e completa como uma promessa: “Tudo o que vai, volta”. A intervenção divina continua em faixas como “Tribe”, “Bumba”(animal folclórico que representa morte e ressurreição), com referência a Oxossi, orixá da caça, fartura e prosperidade, “First Commandment”, “Bumbklaat”, e “Umbabarauma” (composta por JORGE BEN).
Em “Quilombo”, Max conta a história do escravo Zumbi, que segundo ele, serviu como inspiração devido à coragem, e na faixa “Cangaceiro” é a vez de Virgulino Ferreira da Silva, o Lampião, ser lembrado. “No”, “The song Remains insane” e “Prejudice” são porradas na cara do sistema, criticando o preconceito, a falsidade e as banalidades da vida atual. A bela “Soulfly”, mesmo sendo instrumental, parece resumir a temática do disco sem precisar de palavras.
O primeiro do SOULFLY talvez seja o mais fraco de toda a carreira da banda. Trata-se de um disco longo e que ainda pairava sob a sombra de “ROOTS”. Mas, se este último primava pelo ineditismo, “SOULFLY”, o disco, tinha o mérito de ser agressivo na música e no sentimento. É claro que, assim como para seu criador, o disco é parte de um momento representativo nas vidas de muitas pessoas, mas a verdade é que se trata do primeiro passo de uma caminhada que acabou se provando longa e próspera. Com certeza, o melhor ainda estava por vir, e não demoraria muito.
SOULFLY – “SOULFLY” (1998)
Roadrunner Records
Formação:
Max Cavalera- guitarra e vocal
Jackson Bandeira- guitarra
Marcello D. Rapp- baixo
Roy “Ratta” Mayorga- bateria
Track List:
1- Eye for an eye
2- No hope = No fear
3- Bleed
4- Tribe
5- Bumba
6- First Commandment
7- Bumbklaatt
8- Soulfly
9- Umbabarauma
10- Quilombo
11- Fire
12- The song remains insane
13- No
14- Prejudice
15- Karmagedon
16- Cangaceiro
17- Ain’t no feeble bastard
18- The possibility of life’s destruction


Fonte: Soulfly - Soulfly - Resenhas de CDs http://whiplash.net/materias/cds/157063-soulfly.html?utm_source=feedburner&utm_medium=feed&utm_campaign=Feed%3A+feedburner%2FiSMr+%28WHIPLASH.NET+-+Rock+e+Heavy+Metal%29#ixzz1y9sTaZfu

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