Por MADSON MORAES
Quem é seu Beatle favorito? Lennon tem uma legião de seguidores. Harrison é adorado por muitos. Ringo é cultuado por aqueles do tipo “Ah, eu vou gostar dele porque ninguém declara que gosta”. Eu sou McCartney Futebol Clube. Não desconsidero os demais e nem considere as afirmações acima como gerais e definitivas. Mas, como tudo na vida é uma escolha permanente, escolho aquele que melhor definiu minha sensibilidade nesta pequena vida de 26 anos de rock and roll e bossa nova.
Paul McCartney completa 70 anos de eternidade. Exato, porque idade é coisa de calendário. E o antigo menino de Liverpool segue serelepe mesmo septuagenário. Elogiá-lo é quase redundante. Paul, se permitem os dicionaristas e estudiosos da língua, deveria ser catalogado “aquele que cantou tão bem as dores de amores da nossa fraternal adolescência”. Macca (apelido de Paul) é o autor da trilha sonora romântica de inúmeras gerações que dançaram embaladas pelas mudanças nos hábitos culturais e musicais durante décadas. E, vejam só, ainda está aí embalando novas romances.
Caetano Veloso, outro monstro que se aproxima dos setentões em agosto próximo, disse em sua coluna “Marco” ao explicar o significado dos Beatles aos filhos: “Expliquei aos dois que os Beatles de "I wanna hold your hand" tinham para o grupo de pessoas que eu conhecia - tanto na Bahia quanto no Rio - mais ou menos o mesmo significado que Bieber tem para eles agora”. Talvez a semelhança dos cabelos tenham levado Caê a dizer isso sem saber, assim acho, que quem criou as famosas franjas penteadas para a frente foi Astrid Kirchner, namorada do primeiro baixista da banda, Stu Sutcliffe. Logo depois, os Beatles iriam amadurecer e McCartney se transformaria nessa figura fundamental que se tornou para a cultura ocidental.
Paul era mais o amor convencional e Paul cantava como quem sussurrava a diplomacia do amor. Já Lennon escancarava as injustiças do amor como quem grita e pedia “Help, I need somebody”. Para Lennon, o amor era violento como uma briga de UFC. Para Paul, as brigas do amor eram apenas encenações como as lutas do telequete.
Ele compôs a primeira música em 1955, aos 14 anos. Ela se chamava "I Lost My Little Girl". Aliás, foi no filme "O selvagem" (1953), quando o ator Lee Marvin refere-se às motos como "beetles" que Paul, ainda adolescente, assistiu ao filme e decidiu que sua banda teria o nome de "Beatles". Um ano depois, McCartney conheceu a turma de Lennon ao assistir a um show dos Quarrymen, banda esta que daria origem aos Beatles e o resto, se minhas assim me permitem o clichê, é história.
O fã mais atento pergunta-se: são os 70 anos do Paul original ou do Paul sósia? Ora bolas! Explico brevemente a história. Em 1966, Paul sofreu um acidente de moto sem grandes consequências. Mas o tal acontecimento provocou uma onda de boatos sobre a morte do Beatle e em sua substituição no grupo por um sósia. Os que acreditavam na história diziam haver centenas de pistas em músicas e clipes deixadas por Lennon, Ringo e Stuart (Ringo entraria tempos depois) para que os fãs descobrissem a verdade. Centenas de matérias em jornais, especulações de fãs e mesmo livros foram surgindo sustentando a versão da morte de Paul. Outro grande boato do rock and roll.
Se é ele, se é sósia, pouca importa. Pare para pensar. Se de fato for o velho Paul dos tempos primitivos do “Cavern Club”, em Liverpool, (lá fizeram 294 apresentações entre dezembro de 1960 e agosto de 1963), local embrionário para os Beatles, estamos ótimos, poxa, é o original de fábrica. Mas, se for mesmo um sósia que o substituiu após sua morte, ok também, é tão bom quanto o primeiro mesmo pirata. Estamos diante de um fato onde tanto o original quanto a cópia são perfeitos. Quando se trata dos Beatles, até o pirata parece original. E os números estão aí para comprovar o que digo.
Segundo o Guiness Book, Paul tem 60 discos de ouro (entre 45 discos lançados) e 100 milhões de álbuns e singles vendidos, entre as quatro bandas que tocou e a carreira solo, iniciada em 1970. Além disso, Macca emplacou nada menos do que 32 singles no 1º lugar da Billboard. Quer mais? A canção Yesterday, que iria chamar-se, acreditem, Scrambled Eggs (ovos mexidos), já foi gravada em mais de três mil versões diferentes com 7 milhões de execuções de Yesterday nas rádios e TVs dos Estados Unidos. Desde que saiu dos Beatles, Paul já realizou 19 turnês e mais de 400 shows e depois de passar quase toda a década de 80 sem se apresentar, engatou em 1989 sua mais longa turnê: 14 meses e 104 shows. Ufa!
Lennon sobreviveria à prova de fogo que foi a década de 80 para muitos artistas? Certamente que sim. McCartney sobreviveu e petrificou-se no que há de mais eterno na história da música. Eternizou-se do jeito que poeta avisou: eterno é tudo aquilo que dura uma fração de segundo, mas com tamanha intensidade que a petrificou.
“Let it be”, meninos e meninas. Deixe estar, ele já dizia. Lennon tornou-se o mito “Saint John” após a morte. McCartney ainda completa eternidades por aí.
* Madson Moraes, 26 anos, é colunista e repórter do Tempo de Mulher. Já escreveu críticas de cinema para a Revista Zingu e passou por revista e redação online. Também é comentarista da Rádio SPFC Digital. Metido a poeta, escreve no blog madsonmoraes.tumblr.com (@madson_moraes)
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