"Isto não funciona mais", disse ela. "Não faz vapor."
Held estava no lugar certo. No Repair Cafe de Amsterdã, evento originalmente realizado no saguão de um teatro, depois numa sala alugada num antigo hotel e hoje num centro comunitário duas vezes por mês, pessoas podem trazer qualquer coisa para ser consertada, sem nenhum custo, por voluntários que simplesmente gostam de arrumar coisas.
Concebido como uma forma de ajudar a reduzir o lixo, o conceito do Repair Cafe (algo como cafeteria de reparos) decolou desde sua estreia, há dois anos e meio. A Repair Cafe Foundation levantou cerca de US$ 525 mil com uma dotação do governo holandês, apoio de fundações e pequenas doações – dinheiro que paga equipes de funcionários, marketing e até mesmo um ônibus do Repair Cafe.
"Na Europa, jogamos fora muitas coisas", afirmou Martine Postma, ex-jornalista que criou o conceito quando o nascimento de seu segundo filho a fez pensar mais no meio ambiente. "É uma pena, pois as coisas que jogamos fora geralmente não estão tão quebradas assim. Há cada vez mais pessoas no mundo, e não podemos continuar lidando com isso da forma como fazemos."
"Eu tive vontade de fazer alguma coisa, e não apenas escrever sobre o assunto", explicou ela. Mas ela estava angustiada com a seguinte questão: "Como você pode tentar fazer isso como uma pessoa normal, em sua vida cotidiana?".
"Discussões de sustentabilidade costumam ser sobre ideais, sobre como poderia ser", continuou Postma. "Após um certo número de workshops sobre como cultivar seus próprios cogumelos, as pessoas se cansam. Nosso conceito é algo muito 'mão na massa', muito concreto. Trata-se de fazer algo em conjunto, aqui e agora."
Embora os Países Baixos depositem menos de 3 por cento de seu lixo municipal em aterros sanitários, ainda há espaço para melhorar, garante Joop Atsma, secretário estadual de infraestrutura e meio ambiente. "O Repair Cafe é uma maneira eficaz de elevar a conscientização sobre objetos descartados que ainda possuem valor", escreveu ele por e-mail.
Isso certamente fez sentido para a mulher que, numa terça-feira à noite, entrou num Repair Cafe carregando seu aspirador de 40 anos – comprado logo que ela se casou.
"Estou muito contente, muito mesmo", afirmou ela enquanto John Zuidema, de 70 anos, arrumava o aparelho. "Meu marido faleceu, e ele costumava consertar muitas coisas pela casa toda."
"Para nós, o interessante é que isso cria novos locais de encontro nos bairros, e as pessoas deixam de morar ao lado umas das outras como estranhos", disse Nina Tellegen, diretora da DOEN Foundation.
A fundação ofereceu ao Repair Cafe uma doação de mais de US$ 260 mil como parte de seu programa de "coesão social", iniciado em seguida aos assassinatos do político Pim Fortuyn, em 2002, e do cineasta Theo van Gogh, em 2004. "O vínculo com a sustentabilidade apenas torna o conceito ainda mais interessante."
Segundo Tellegen, as pessoas que mais se identificam com o Repair Cafe são os idosos.
"Eles possuem habilidades que se perderam", explicou ela. "Costumávamos ter muitas pessoas que trabalhavam com as mãos, mas nossa sociedade evoluiu para algo baseado em serviços."
Evelien H. Tonkens, professora de sociologia na Universidade de Amsterdã, concorda.
"Isso é basicamente um sinal dos tempos", disse Tonkens, apontando que o espírito anticonsumista, antimercado e "faça você mesmo" do Repair Cafe faz parte de um movimento mais generalizado – que, nos Países Baixos, busca aprimorar as condições do dia a dia através de um ativismo social de base.
A Repair Cafe Foundation abastece grupos interessados com informações para ajudá-los a começar, incluindo listas de ferramentas, dicas para levantar verba e materiais de marketing. Postma recebeu consultas da França, Bélgica, Alemanha, Polônia, Ucrânia, África do Sul e Austrália.
Tijn Noordenbos, um artista de 62 anos de Delft, começou um Repair Cafe há quatro meses.
"Gosto de consertar coisas", explicou ele, acrescentando que as oficinas de sua juventude praticamente desapareceram. "Hoje, se alguma coisa quebra, você a leva até a loja e eles dizem: 'Vamos enviar para a fábrica e o orçamento lhe custará 100 euros. Será melhor se comprar um novo'."
"O valor do Repair Cafe é que as pessoas estão retomando um relacionamento com os objetos materiais ao seu redor", afirmou McDonough.
Veja por exemplo a minissaia preta H&M de Sigrid Deters, com um furo bem no meio.
"Esta peça custou 5 ou 10 euros", disse ela, acrescentando que não a havia costurado ela mesma por ser desastrada demais. "É uma peça de nada; eu poderia jogá-la fora e comprar uma nova. Mas se fosse consertada, eu a usaria."
Marjanne van der Rhee, voluntária do Repair Cafe que distribui formulários de coleta de dados e mantém os outros voluntários energizados com café, declarou: "Pessoas diferentes entram aqui. Com alguns, você pensa que talvez eles venham porque são pobres. Outros parecem bem de vida, mas possuem consciência de questões ambientais. Alguns parecem um pouco doidos".
Enquanto o fazia, Held e van der Rhee discutiam os tradicionais lenços de cabeça que Held, nascida no Suriname, produz para vender.
Quando van den Akker montou novamente o ferro de passar, duas peças foram deixadas de fora – não importa, explicou ele, elas provavelmente não eram muito importantes. Ele ligou o velho fio numa tomada. Uma luz verde se acendeu, gotas de água com ferrugem escorreram para fora. Finalmente, o vapor começou a sair.
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