"Olá, super-heróis!", gritou uma mulher de dentro do carro. "Sou apaixonada por vocês!"
Morra de inveja, Batman. Em um nicho de vida urbana que tem se desenvolvido nos últimos anos entre a fantasia das histórias em quadrinhos e o juramento dos escoteiros, uma célula de vigilantes autoproclamados _ alguns com capas, outros sem, mas todos com algo a provar _ está na ativa.
Eles espreitam as noites de Boston, São Francisco, Milwaukee, Minneapolis, e até mesmo da Austrália. Ainda não é certo se estão tornando o mundo mais seguro, ou apenas mais esquisito.
Alguns saem armados com equipamentos como gás lacrimogêneo, spray de pimenta e cassetetes; outros dizem que usam apenas celulares, com o objetivo de trabalhar como os olhos e ouvidos da polícia, que, na maioria das cidades, incluindo Salt Lake City, está mantendo uma distância cautelosa deles.
"Não os estamos defendendo, apoiando, condenando ou qualquer outra coisa assim _ estamos nos mantendo imparciais e longe deles", disse o detetive Joshua Ashdown, porta-voz da polícia de Salt Lake City. "Apoiamos apenas aqueles que treinamos."
Red Voltage, que durante seu dia-a-dia comum e pacato é um gerente de locação de imóveis de 23 anos chamado Roman Daniels, acenou casualmente para a sua fã no carro. Coberto da cabeça aos pés com uma fantasia de couro vermelha e preta, e com o rosto coberto de elastano, ele afirma tornar-se uma pessoa diferente quando está mascarado _ uma pessoa melhor.
Jim Wilson/The New York Times
Mike Gailey, um homem robusto que antes trabalhava como leão de chácara em uma boate de striptease, e cuja persona de combatente do crime se chama Asylum, disse que, para ele, juntar-se à Black Monday Society foi, em parte, uma maneira de se retratar por certas coisas que fez no passado, como o tempo em que cobrava dívidas para traficantes de drogas.
"Eu era um capanga", disse Gailey, de 31 anos. "Existem muitos caras como eu, que querem se retratar por coisas do passado."
Outro patrulheiro da Black Monday se identificou como ex-membro de uma gangue. O cofundador do grupo, Dave Montgomery, um tatuador conhecido nas ruas como Nihilist, vigilante com roupas pretas de couro, disse que já foi alcóolatra e que vestiu a máscara quando parou de beber.
É claro que o fato de combatentes do crime terem problemas pessoais é uma tradição antiga. O Super-homem foi enviado à Terra por seus pais. Os X-Men são mutantes desprezados. E não precisamos nem falar do rico Bruce Wayne _ aquele da Batcaverna, que tem o Robin como ajudante.
Alguns combatentes do crime arrumam problemas com as autoridades. Em Seattle, por exemplo, um homem com uma fantasia musculosa, chamado Phoenix Jones, foi preso em outubro depois que a polícia afirmou que ele usou spray de pimenta em algumas pessoas ao tentar apartar uma briga de rua.
Outros vingadores mascarados, do passado e do presente, já tiveram objetivos muito específicos em suas lutas contra os problemas da sociedade. No começo dos anos 2000, por exemplo, uma mulher em Nova York, cuja persona se chamava Terrifica, começou a patrulhar os bares de paquera vestida de elastano rosa e roxo.
Jim Wilson/The New York Times
Novas atitudes em relação à polícia também podem estar afetando a maneira como as pessoas veem os combatentes do crime. Aqui em Salt Lake City, por exemplo, uma patrulha da Black Monday que passava por um acampamento do Occupy Salt Lake City em uma praça do centro da cidade, recentemente, foi recebida com muito carinho. Muitos manifestantes afirmam que uma patrulha contra o crime que não pertença à polícia é mais que bem-vinda hoje em dia.
"É exatamente isso que precisa acontecer no mundo _ sabe, por que precisamos da polícia se podemos ajudar uns aos outros?", disse Poyce Denikma, um ex-peão de obras de 21 anos que hoje é manifestante. "Eles estão dando um exemplo, um exemplo maravilhoso, do que precisa acontecer."
Outras pessoas que encontraram a patrulha não tinham tanta certeza disso.
"Ainda estou pensando no assunto", disse Rebecca Vest, uma moradora de Seattle que estava visitando Salt Lake City para o casamento de uma amiga e havia saído para caminhar. Vest disse que o caso em sua cidade, envolvendo o super-herói com o spray de pimenta, havia levantado algumas preocupações.
"Mas acho que, às vezes, só a presença das pessoas já ajuda, e eles certamente não estão se escondendo de ninguém", ela disse, depois de posar para uma foto com a patrulha da Black Monday. "Eles estão lá fora, dizendo 'Ei, aqui estamos nós'."
Montgomery, o Nihilist, disse que as máscaras estão por toda a parte, se você olhar bem. Ele disse que o que é escondido e o que é revelado pela fantasia é a psicologia básica da vida de um super-herói.
Jim Wilson/The New York Times
Ele admite que usar roupas que muitas pessoas consideram fantasias de Dia das Bruxas já transformou, em certas ocasiões, os patrulheiros da Black Monday nos próprios alvos de crimes, ou ao menos de provocações. Mas ele disse que a inteligência e a razão quase sempre desmontam a tensão ocasional com bêbados e outros durões que possam enxergar os patrulheiros como alvos de zombaria.
"Quando começamos a conversar, eles deixam de nos enxergar como patetas ou idiotas fantasiados", ele disse.
Ultimamente, no entanto, Montgomery tem patrulhado menos, para se dedicar mais à atividade de ser pai.
Ele e sua ex-mulher têm guarda conjunta de sua filha de 5 anos de idade, Frankie, e ela passa a maioria das noites com o pai. Mas às quintas e sextas, ela vai para a casa da mãe, deixando-lhe duas noites livres para vestir a fantasia e ir patrulhar as ruas.
"Pegou seu cobertorzinho?", ele perguntou à filha enquanto se preparava para levá-la ao jardim de infância em uma manhã recente de quinta-feira. Dentro da sala de aula, as crianças estavam preparando uma festa de fim de ano _ cada aluno deveria preparar um presente secreto para outro. Mesmo antes da primeira série, Frankie já estava trabalhando infiltrada.
"Lembre-se, você é o Papai Noel Secreto", Montgomery sussurrou para a filha. "Não conte para ninguém."
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