Texto: Karina Francis
“Nos nossos shows nós queremos mais é dês – estressar, soltar as neuroses com bom humor e sem invadir o espaço de ninguém. Porque vivemos sobre pressão de tudo! Contas, polícia, preconceito, violência, só treta! Queremos mais é que a galera que vai curtir o show solte a neuroses conosco! Grite, pule, agite uma roda. Queime gordurinhas localizadas e saia de lá leve depois de ter visto o show”. Impossível encontrar melhor definição do show da banda Galinha Preta do que essa dita pelo vocalista Frango.
De todas as bandas entrevistadas por mim (e olha que já tem um cadinho bom), essa foi a que demonstrou melhor senso de humor nas respostas. E talvez esse senso de humor seja a palavra chave para entender o porquê Galinha Preta se destaca no cenário do rock alternativo no país.
Com letras que falam sobre o cotidiano embasado em um rock agressivo com influências de hardcore com vertente para o grind e bases eletrônicas, a banda brasiliense se tornou conhecida por fazer do palco um lugar de libertação.
Após se apresentarem no Porão do Rock tudo mudou. A banda ganhou destaque na mídia underground e todos passaram a conhecer o som deles. Mas antes do Porão do Rock, Galinha Preta já era o Galinha Preta e após o evento continuou sendo. O que mudou na verdade foi a visibilidade que a banda ganhou. Mas o som e a ideologia permanecem.
Eles possuem muita presença de palco, mas é notável que quando estão lá em cima o que vale é a diversão. Extravasam os próprios limites e por alguns momentos parecem se transportar para outro ambiente. Ver um show deles é fundamental para qualquer amante do rock and roll ou simplesmente para quem quer se divertir.
Formada em 2002 a banda passou por algumas alterações até se consolidar de vez. Fazem parte do grupo Frango Kaos (vocal, samplers, guitarra), Bruno Tartalho (baixo), Hudson Hells (guitarra) e Guilherme Tanner (bateria).
O quarto disco e mais recente trabalho é o “Ajuda nois aê“, que foi lançado por eles mesmos em março de 2010 e pela Karasu Killers no Japão.
Ricardo Gonzales, o Frango, é um dos técnicos de som mais requisitados, é fácil encontrar com ele nos festivais. Sempre de camiseta preta, com um cabelo bagunçado, correndo pra lá e pra cá. A primeira vista ele parece sério, mas é só a primeira vista mesmo.
Se fosse para definir o trabalho que eles fazem, posso dizer que Galinha Preta é sinônimo de música pesada, música suja, música boa! Por isso Galinha Preta é para dar e vender, porque música boa precisa ser fomentada!
Abaixo um bate papo com a banda:
Rockazine: A banda teve sua primeira formação em 2002. De lá pra cá, houve mudanças de integrantes e uma pausa. Ainda sim, são quase dez anos de estrada. O que mudou na maneira de enxergar e fazer música para o Galinha Preta?
Rockazine: Já assisti duas apresentações da banda. Senti que para vocês a música está relacionada com diversão e barulho. Percepção correta?
Frango: Corretíssima! Nos shows nós queremos mais é dês – estressar, soltar as neuroses com bom humor e sem invadir o espaço de ninguém! Porque vivemos sobre pressão de tudo! Contas, polícia, preconceito, violência, só treta! Queremos mais é que a galera que vai curtir o show, solte a neuroses conosco! Grite, pule, agite uma roda. Queime gordurinhas localizadas e saia de lá leve depois de ter visto o show! Você curtiu? Se divertiu? E o que ta valendo!
Rockazine: Por que o nome “Galinha Preta”?
Frango
Frango: Sim! Aqui tem muitas bandas! Bandas boas! Tanto de som pesado como de pop e tals! Brasília não é fechada a música alternativa! Tem público de sobra, mas falta espaço pras bandas tocarem. Não tem uma casa de show tradicional como SP ou BH ou Rio! O lance aqui é showzinho pequeno ou mega festivais, não tem o intermediário! Isso lasca as bandas, não tem uma frequência! Por isso não temos uma atividade maior de shows por aqui! Mas isso tá mudando, devagar, mas tá! Não temos bons espaços pra aproveitar essa fartura de bandas de qualidade!
Rockazine: Como foi o processo de produção do “Ajuda nois aê”?
Frango: Hahahah! Foi gravado em 8 canais numa DIG 001 em 3 horas e mixado e masterizado em 4 horas, por nós mesmos! Foi legal! Não ia virar o disco, era pra ser uma demo! Aí comprei a ideia de disco! A rapaziada da banda ficou meio desconfiada, mas no final deu tudo certo! E eu curto muito o som do disco! Podre e pesado, mas é massa! Bem cru!
Rockazine: Grande parte das músicas é inspirada no cotidiano. Falar sobre isso é uma forma de contestar? De ir contra a comodidade?
Frango: Olha, acredito que dá pra melhorar a qualidade de vida e de informação com a música! E dá pra fazer uma higiene mental e extravasar as neuroses e ironizar o que acontece no dia a dia! Ônibus, fila de banco, ‘baculejo’ de PM, etc. Ou dar um toque sobre assuntos importantes como o saco de plástico, ou o antigo projeto s.i.v.a.m, que “vigia” a Amazônia (acredito que a 3ª Guerra Mundial vai ser por água!), tretas de impunidade de políticos invulneráveis por nossas leis e por ai vai. Rockazine: Os festivais são a grande vitrine dos artistas alternativos. Quando vocês participam desses eventos, o que procuram aprender?Brunão: O que mais me chama atenção é aprender como as outras bandas fazem pra gerir, pra circular, pra se divulgar. Sempre aprendemos alguma coisa nova, além de aumentar a rede de contato e acabar cavando novos shows por estar em contato com quem faz ou com quem conhece alguém que faz shows!
Rockazine: Quais as experiências mais significantes adquiridas depois de tocar em tantos lugares diferentes?
Brunão: Acho que é perceber o tanto que a música se espalha, ver acontecendo na prática o resultado dessa correria de tentar distribuir as músicas por todos os cantos. Chegar a uma cidade pela primeira vez e ver que tem uma galera que admira muito o trampo, poder trocar ideia com essas pessoas. Na hora do show, se divertir e passar tudo que achamos pra todo mundo!
Rockazine: O que esperar de vocês esse ano?
Brunão: Estamos tentando começar a registrar mais os shows!!! A ideia é ter mais vídeos e fotos. Queremos fazer um DVD novo que já está sendo planejado, e shows, já já aparece mais umas doideras nos shows!!!
(http://www.rockazine.com.br/): Por ser um nome discriminado… talvez? Acho que é mais pra manter o medo de cruzar com a gente numa encruzilhada! Hahahahahahah! To zuando! Não tem um porque não! É tipo um nome! Tipo Silva! Hahhhaahah!
Rockazine: Brasília sempre foi um local forte para música. O cenário alternativo já está enraizado por lá e constantemente boas bandas se destacam. Vocês compartilham desse pensamento ou acham que a capital brasileira não está tão aberta para a música alternativa?
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